
O prefeito de Quixadá, Ricardo Silveira, e seu vice, Marcelo Ventura
O prefeito do município de Quixadá, Ricardo Silveira, médico cardiologista eleito no último pleito, gravou vídeo que circula nas redes sociais comentando sobre a situação da pandemia na cidade que é uma das maiores do Sertão Central. Ricardo afirma que desde o início da pandemia, em março de 2020, “nunca tivemos um momento tão difícil como tá hoje”. O prefeito informou ainda que, a essa data, 21 de abril, as unidades de saúde municipais operam com lotação máxima. A partir desse ponto do vídeo, o gestor começa a ressaltar uma expansão que teria sido feita na rede de saúde com uma ampliação de “mais de 100%” na quantidade de leitos, dobrando a capacidade de internação da cidade e que, mesmo assim, a situação foge do controle. Ricardo diz que “toda a estrutura de saúde aumentou significativamente”. O gestor finaliza pedindo a conscientização da população. Porém, a fala do prefeito foi, como um todo, rasa. Vamos aos pontos:
Ricardo afirma que sua gestão expandiu o número de leitos municipais “em mais de 100%“. Sabemos que o governo do estado, por meio de articulação política desenvolvida entre o deputado Osmar Baquit, o ex-prefeito Ilário Marques e o governador Camilo Santana, ainda no ano passado, garantiu ao município cerca de 10 leitos de UTI, que foram instalados no Hospital Maternidade Jesus Maria José. Quixadá contava com leitos para internação na Unidade de Pronto Atendimento e no Hospital Dr. Eudásio Barroso –ao menos 10 em cada unidade. Ainda no ano passado, a gestão do ex-prefeito Ilário adaptou a Unidade Básica de Saúde do bairro Putiú, que estava sendo finalizada, para receber toda uma estrutura voltada a tratamentos mais intensivos de casos graves de Covid-19. À época, a ‘Unidade Covid de Quixadá‘ foi estruturada e recebeu 20 leitos, 10 deles com respiradores. A cidade contava, então, com ao menos 40 leitos próprios, sem contar os destinados no Hospital Regional e de Campanha.
Sem entrar em detalhes e omitindo os esforços daqueles que considera ‘adversários políticos’, mesmo em tempos difíceis como agora, Ricardo tentou inaugurar e ganhar fama com os leitos de UTI, pressionando a Maternidade com um prazo insustentável de 72h para a instalação completa dos leitos. A direção da Maternidade entregou os equipamentos para a prefeitura e a população descobriu que nem Ricardo teria capacidade para colocar os leitos em funcionamento nas tais 72h. O plano do prefeito era inaugurar os equipamentos no dia de seu aniversário. Para afirmar com tanta convicção que dobrou a capacidade do sistema de saúde municipal, o prefeito teria de ter inaugurado uma outra unidade de Covid e apresentado a população, então, mais de 80 leitos de internação. Não fez nem um, nem outro. Na verdade, a cidade conta hoje com 38 leitos, sendo 20 no HMJMS e 18 na UPA. Todos estão ocupados.
Mesmo com a pressão da sociedade civil, de parlamentares e da situação caótica da devastadora 2ª onda do Coronavírus, bem como dos repasses do governo Federal para o enfrentamento da Pandemia e a ajuda do governo do Ceará em entregar equipamentos avançados de saúde, Ricardo optou por não reabrir a Unidade Covid da cidade, que havia sido encerrada em agosto do ano passado, após o pico de infecções no município, mas continuou funcionando como UBS e com as instalações prontas para receber leitos, o que teria poupado recursos para a instalação das UTI’s na Maternidade, bem como a situação desgastante entre o poder municipal e a Diocese de Quixadá, que resolveu não cobrar pelo espaço como forma de ajuda a população. O prefeito ‘estava com a faca e o queijo na mão’, e resolveu jogar os dois no lixo. Além disso, ao não reconhecer os esforços de um político dedicado e com boas relações com o governador, como é o deputado Osmar Baquit, renegando sua ajuda por birra política, Ricardo põe em risco Quixadá por conta de divergências pessoais e de campanha politiqueira.
O prefeito, na sua fala, disse ainda ter ampliado toda a estrutura de saúde do município “significativamente”. Na verdade, existem denúncias aos montes de populares que alegam a falta de médicos em diversas Unidades Básicas do município. UBS’s como do Jatobá, São João dos Queiroz, Várzea da Onça, Campo Novo, Juá e Alto São Francisco estariam sofrendo com faltas sistemáticas de médicos. A suspensão de atendimentos em postos de saúde em um tempo de pandemia é extremamente perigoso, já que a população, sem conseguir atendimentos em seu bairro, tende a procurar outra próxima, ou ir para a UPA 24h da cidade, que no momento também recebe, além de emergências, parte de infectados com Covid, e outros suspeitos para exames. A aglomeração na unidade pode tranforma-la em difusora do vírus para os mais remotos pontos da cidade.
Quixadá não vive uma situação nada agradável com o combate a pandemia. A cidade, que passou por um Lockdown muito questionável durante o decreto do estado, não acompanhou a diminuição de casos do Ceará. Segundo boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde local, o município acumulou 246 novos casos confirmados de covid-19 nos últimos sete dias. O número de óbitos pela doença disparou para 111. Além de o Sertão Central ter sido uma das únicas regiões do estado em alerta com o número de transmissão, como relatamos aqui, os dados apresentados pela secretaria de saúde da cidade não conferem com os da secretaria de saúde do estado. De acordo com a prefeitura, Quixadá acumula 5.426 casos confirmados da doença. A secretaria estadual, porém, diz que o número é maior e que há 483 casos a mais, chegando ao acumulado de 5.909 confirmações na Terra dos Monólitos. Quanto ao número de recuperados, segundo a saúde local, é de 4.811; a Sesa, porém, aponta para um número menor: 4.580.
Ricardo finaliza o vídeo pedindo a conscientização do povo. Ele esquece, porém, que grande parte do povo segue os exemplos que lhes são mostrados, e o próprio prefeito não é o melhor para o caso. Antes mesmo da campanha de 2020, durante a primeira onda de Covid no Brasil, quando vírus chegou à Quixadá e os decretos municipais e estaduais proibiam aglomerações e encontros presenciais, Ricardo, que estava a pleno vapor em pré-campanha, era constantemente visto e flagrado por fotos e vídeos em casas, alpendres e sítios no interior, junto a diversos apoiadores, conversando com a população sem os devidos cuidados. Seu opositor, Ilário, fazia lives semanais comentando os dados de Covid da cidade, levando especialistas e com a presença constante da secretária de saúde da época, Juliana Câmara, na orientação da população. Já em campanha, os dois candidatos mais bem posicionados causaram aglomerações, porém o momento era de retração da pandemia, com a estabilização de infectados. Após a vitória e ao assumir a prefeitura, com o advento da 2ª onda, Ricardo foi visto em encontros e festas, dançando muito forró, inclusive. Na época, o gestor foi criticado por jornalistas e alertado em programa de rádio pelo radialista Luis Lopes, que lhe disse que “prefeito tem que dá exemplo“. O exemplo negativo do gestor é visto até hoje, nas festas e “saideiras” dos jovens em postos de gasolina da cidade durante a madrugada. Agora, correndo atrás do prejuízo, o prefeito decretou a proibição das vendas de bebidas alcoólicas no município; resta saber se garantirá a fiscalização constante do acatamento do decreto.
Confira a fala na íntegra do médico Ricardo Silveira, prefeito de Quixadá:
O prefeito diz, ao final, “vamos de mãos dadas[…]“. Não recomendamos, caro leitor, seguir de mãos dadas nesse momento. Todo cuidado é pouco. Higienize suas mãos, use máscara e não vá a forrós. Dê exemplo também.