O município de Quixadá está próximo de quebrar a barreira dos 9 mil casos confirmados da Covid-19, e será, possivelmente o primeiro do Sertão Central a ultrapassar essas triste barreira. Somados aos quase 180 óbitos, a sensação que paira é de tristeza e descontrole.
Atrasos salariais, demissão de profissionais qualificados, perseguição, falta de planejamento, aparelhamento da saúde com negacionistas defensores de remédios ineficazes, marketing com vacinas, perda de doses por brincadeira, fura-fila na imunização, utilização de vacinas destinadas a um grupo em outro, falta de articulação e campanha para cadastramento da população no Saúde Digital, suspensão da vacinação, subutilização dos agentes de saúde e informações falsas em meios oficiais, descontrole sobre número de casos e óbitos: como uma cidade que foi exemplo para o governo do Ceará em 2020 se torna uma das mais contagiosas, com disparo de mortes e descaso na campanha de imunização contra a Covid-19?
Durante os últimos dias ficou evidente o caos que se instaurou na saúde de Quixadá. Voltamos ao terrível patamar de descontrole da epidemia de Chikungunya, ocorrido entre 2015/16. A cada dia, uma nova notícia dava conta do descaso. Desde que assumiu, a nova gestão não mostrou a que veio, a não ser desfazer políticas públicas consolidadas a tempos na cidade. O aparelhamento da pasta com negacionistas que idolatram ideias contrárias a ciência mostrou como seria o combate ao coronavírus. O marketing impetrado no início da campanha de imunização, com a vacinação de pessoas fora dos grupos prioritários e o escândalo nacional da ‘Coronavácuo’ foi um dos erros primordiais, que como efeito dominó chegou até a triste situação da suspensão da vacinação ocorrida na última semana.
Enquanto Quixeramobim segue vacinando e já entrega calendário do público geral de 52 anos, Ricardo Silveira suspendeu temporariamente a imunização em Quixadá, longe dessa marca, por conta da falta de planejamento da aplicação das doses recebidas. Além disso, o ‘atropelo’ durante a imunização dos grupos prioritários, que fez com que centenas de pessoas com comorbidades ficassem esperando para receber um sonoro “Não tem vacina”, no sol quente, fez com que injustiças fossem cometidas, como a entrega de doses destinadas a pessoas cadastradas no sistema do governo a outras. Quixadá, sem uma campanha informativa ou auxílio para cadastro da população no Saúde Digital, se tornou uma das cidades que menos aderiram ao sistema, o que pode provocar uma queda na entrega das remessas do governo estadual. Hoje, prefeitura e Câmara, comandada por um apoiador ferrenho do prefeito, correm contra o prejuízo.
Sem falar dos atrasos salariais, da falta de condições de atendimento dos profissionais da UPA, da tentativa de gastar milhões de reais com pão e da utilização de um “hospital de campanha” -que nada mais é do que uma tenda fortificada com apenas 10 leitos, ao invés da utilização de uma estrutura completa como o Centro de Covid constituído na UBS do Putiú. Tudo isso, porém, não dói mais que a partida de tantas irmãs e irmãos quixadaenses, por uma doença que tem vacina. Se o presidente, apoiado pelo prefeito, tivesse comprado doses quando possível, não estaríamos nessa situação, mas também se o próprio prefeito tivesse feito o que devia, não teríamos perdido tanta gente. Só nos 6 primeiros meses de 2021, morreram mais pessoas de Covid do que em todo 2020. Quixadá chegou a lamentável marca de 179 óbitos confirmados, sem contar os subnotificados e em investigação. É um descaso sem precedentes, enquanto a secretária foge de responder a população e finge uma normalidade que não existe, e o prefeito prefere passar o fim de semana longe da cidade, ‘espairecendo’ dos problemas de seu povo. O que um diz, o outro nega; o gestor fala que há imunizantes, a secretária diz que ele não sabe de nada sobre as vacinas.
Até quando a falta de planejamento vai imperar sobre o município? O senhor ainda tem tempo de reverter, prefeito, basta tem pulso e vontade.