
As chapas de oposição na Câmara Municipal, formada por duas das maiores bancadas da casa legislativa, PT e PDT, assinaram em conjunto um pedido de requerimento ao presidente do parlamento, vereador de situação Louro da Juatama, para que seja enviado ao prefeito Ricardo Silveira um ofício pedindo um documento com as assinaturas dos membros do Comitê de enfrentamento do Covid-19 na cidade que deliberaram pela reabertura do comércio local, e os dados pelos quais tomaram tal decisão. A cidade, que teve um lockdown municipal decretado pelo prefeito, viu seus casos dispararem e, mesmo assim, reabriu o comércio após o gestor do município e o Comitê entenderem uma estabilização de casos. O pedido é, por si, o de um atestado de que a fala do prefeito teve embasamento científico, como esperam os vereadores que mostraram a sensibilidade com os riscos que a doença traz a população. Se os critérios usados no Comitê foram científicos, não há motivos para preocupação dos setores que compõem a gestão. Acompanhe abaixo a íntegra do requerimento e sua justificativa obtidos com exclusividade pelo Jornal do Ceará:
Requerimento nº 229 de 11 de Maio de 2021.
Senhor Presidente.
A bancada dos vereadores (a) do PT e PDT que a este subscrevem, com assento na Câmara Municipal de Quixadá, vem requerer, após apreciação dos demais Edis desta Casa, seja enviado ofício ao Exmo. Prefeito Municipal de Quixadá, Dr. Ricardo Silveira solicitando um documento do Comitê de enfrentamento do Covid-19, que apresente o índice de diminuição de casos no munícipio, com responsabilização dos profissionais do Comitê e do Prefeito Municipal de Quixadá.
Quixadá-CE, em 11 de Maio de 2021
JUSTIFICATIVA
É fundamental para nós Parlamentares, que falamos em nome de todos os Quixadaenses, que a flexibilização das medidas de isolamento social, ofereçam à nossa gente a segurança de estarem sendo tomadas mediante informações científicas. Os exemplos de outros Municípios e Estados que também estão com os números de casos elevados e o avanço da Covid-19, acontece mesmo estando eles em isolamento social rígido nos trás essa preocupação.
Ressaltamos que todas as nossas unidades de atendimento da Saúde Municipal estão lotadas e com altos índices de procura de novos pacientes com sintomas da Covid-19. O Governo do Estado do Ceará classifica Quixadá como uma das cidades com maior índice de contágio e de pacientes positivados. Embora os dados apresentados pelo Município estejam divergindo dos dados apresentados pelo Estado -sendo os do Estado superiores aos do Município- o próprio município publica aumento de casos diários na nossa Cidade, bem como o número de mortes.
Contudo, o Prefeito Municipal informa a flexibilização das medidas de isolamento sociais e a reabertura do comércio baseado numa redução de casos e de risco a vida que nos parece inexistente. No primeiro pronunciamento feito pelo Prefeito uma semana após o decreto do isolamento social rígido ele apresenta uma queda vertiginosa dos pacientes positivados e anuncia a flexibilização, o que nos causa estranheza, pois todos os protocolos publicados mundialmente mostram que o ciclo do Vírus dura 14 dias. Sendo assim, impossível tal queda na metade de tempo.
Isso dito e tendo a certeza de que o Município conta com profissionais médicos de reputação e responsabilidade inquestionáveis fazendo parte de um Comitê de Combate à Covid, é importante que nós representantes do Legislativo Quixadaense tenhamos em mãos um documento assinado por eles atestando que as medidas de flexibilização são seguras para os Quixadaenses, bem como se responsabilizando junto com o Gestor das possíveis consequências, haja vista que esta não pode ser uma decisão unilateral e baseada exclusivamente com o pensamento econômico.
Todos nós estamos ansiosos para retornar normalmente às nossas atividades, porém a prioridade
no momento é e sempre será preservar vidas”
Assinam o requerimento os parlamentares
Antônio Weliton Xavier Queiroz (Ci)
Aparecido Hildenio Alves Dutra (Dênis Dutra)
Darlan Lopes da Silva (Darlan Piaba)
Francisco das Chagas Cândido Costa (Ticão)
Gutemberg Queiroz Pelegrine Filho (Guto da Glaudisel)
Lucas Neto da Silva Rodrigues (Neto do Custódio)
Maria Roselene Buriti Lima (Rosa Buriti)
No momento da publicação dessa matéria, Quixadá apresenta um dado triste da pandemia: em 24h, mais 3 mortes foram confirmadas no município e a terra dos monólitos chega, aos 141 óbitos pela Covid-19, sendo 20 apenas nas primeiras duas semanas de maio, e quase 55 desde o início do ano. Os casos confirmados já passaram dos 7.350, recorde da região, e os suspeitos chegam aos 600, de acordo com o IntegraSUS. Agora, mais que nunca, é preciso perguntar ao comitê: onde estão os dados de arrefecimento da pandemia? A taxa de transmissão da doença no Sertão Central é a mais alta de acordo com o governo estadual, mas Quixadá está bem o suficiente para reabrir tudo, segundo o prefeito. Onde estão faltando com a verdade em meio a tantas contradições? A oposição quer saber, e o povo também.
ENTENDA A SITUAÇÃO DO MUNICÍPIO
Quixadá, no Sertão Central, é uma das cidades polo regionais do Ceara, e sua importância econômica e política está sendo ofuscada pelo desmantelo e descontrole que se instalaram na gestão do município. Se em 2020, o modelo de políticas públicas, com equilíbrio de contas somadas à boa gestão de recursos na saúde e consequente enfrentamento efetivo da pandemia do novo Coronavírus transformavam a cidade em exemplo na região, em 2021 estamos vendo o completo oposto. A situação começou a se deteriorar já na mudança de gestão, durante a transição de governo, entre a liderança ainda de Ilário Marques e o então eleito gestor, Ricardo Silveira. Marques relatou inúmeras vezes a dificuldade de montar uma transição eficiente para Ricardo por este não ter uma equipe que conhecesse a máquina pública, com o adendo do médico cardiologista se negar a apresentar a futura equipe de gestão da secretaria de saúde, cuja secretária, Benedita, foi uma das últimas a ser anunciadas. O petista alertou que aquele foi o primeiro erro do novo prefeito da cidade. A partir da posse, foi ficando evidente a falta de planejamento dos novos gestores do município, em especial na condução do enfrentamento a Covid-19: A cidade demorou a apresentar um Plano de Vacinação local consistente, o que gerou críticas e cobrança do governo estadual; a demissão de diversos profissionais da saúde, entre eles vacinadores, causou espanto na população, já que a campanha nacional de imunização estava prestes a acontecer; o desmonte de políticas públicas eficientes, como o Telecovid que ganhou restrições e o acompanhamento da pós infecção; as sucessivas negações em reabrir o Centro de Covid da cidade; o marketing criado em cima da vacina, com a imunização de pessoas conhecidas do município em detrimento de profissionais da saúde e idosos do grupo prioritário; o escandaloso vídeo do ‘Coronavácuo’, que ganhou repercussão internacional após desperdício e erro na aplicação feita pelo próprio prefeito Ricardo, e esses são só alguns dos pontos listados em apenas cinco meses de gestão. O maior de todos, porém, vem agora.
Ricardo, junto a seu grupo político, nunca escondeu o apreço pelas políticas do presidente Jair Bolsonaro. Este, por sua vez, é negacionista, não acredita em vacinação, prefere receitar remédios sem eficácia e mais, é severamente contrário as medidas de isolamento social e uso de máscaras. O gestor de Quixadá e seus aliados parecem ter olhado essa cartilha e apostado a vida dos quixadaenses. Durante os meses de março e abril, durante o ápice da 2ª onda da doença no estado, o governador Camilo Santana impôs lockdown para salvar os cearenses; acontece que nem todas as cidades seguiam a fiscalização como pedia o estado, e Quixadá estava entre elas. Afrouxando o pulso, e com comércios irregulares abrindo a luz do dia, a cidade e seus gestores não levaram a sério o Isolamento rígido. Como consequência, enquanto o Ceará começou a retomada da economia com a estabilização da transmissão da doença, Quixadá viu o caminho contrário acontecer: os números de casos e óbitos no município dispararam, e o prefeito, sem alternativas, teve de decretar lockdown no município, após falar que “aguentou o quanto pode” em vídeo divulgado ao lado da secretária de Saúde. A medida foi duramente repreendida pelos próprios apoiadores de Ricardo, afinal, até ano passado, ele mesmo fazia campanha contra as medidas de isolamento decretadas pelo ex-prefeito Ilário. Ricardo, por sua vez, parece não ter aguentado tanta pressão.
O prefeito havia anunciado o lockdown em uma sexta-feira, 23 de abril, tendo validade até 2 de maio; ao chegar no dia, atualizou o decreto, novamente fechando a cidade, dessa vez por mais uma semana, até o dia 9. Entre essas datas, o CDL do município lançou nota pública, rechaçando a medida, já que ela, segundo os lojistas, não estaria funcionando pela falta de pulso da gestão. Ricardo anunciou, já na terça, 4 um ‘milagre’: a cidade teria tido uma incrível redução de casos, e o lockdown seria já suspenso na sexta, 7 de maio. O anuncio do prefeito, contudo, não foi refletido nos dados divulgados pela própria prefeitura, que mostraram o avanço sem precedentes da infecção, chegando a quase 800 casos ativos na cidade; o gestor de Quixadá disse que sua decisão foi embasada nos dados e falas feitas em reunião do Comitê de Covid da cidade, organismo deliberativo criado pelo próprio Ricardo em janeiro, com membros da gestão, entre eles a secretária de Saúde, e médicos conhecidos e respeitados da cidade. O prefeito, porém, não apresentou integralmente os ‘dados’ discutidos no comitê e a decisão pelo fim do decreto pareceu saída de pressões existentes para isso. Com a crescente de dados e óbitos, a oposição em Quixadá decidiu que os deliberadores da reabertura do município devem assumir sua responsabilidade de forma pública e documental.